Trilogia sobre a Imagem da Mulher no Ocidente Moderno é lançada pela Edusp
Fruto de oito anos de pesquisa da socióloga Isabelle Anchieta, a obra revela as ambiguidades e estereótipos da representação feminina.
Remontar os primórdios da individualização e humanização da sociedade do Ocidente Moderno por meio das imagens da mulher - este foi o cerne do estudo realizado pela socióloga Isabelle Anchieta. Ao longo de oito anos, ela mergulhou em uma intensa pesquisa teórica e de campo, na qual se debruçou por pinturas, esculturas, panfletos noticiosos e filmes dos arquivos de bibliotecas da Alemanha e Suíça, museus da Europa e até dos estúdios de Hollywood. O resultado pode ser conferido em Imagens da Mulher no Ocidente Moderno, trilogia lançada pela Edusp.
“Elegi as imagens da mulher por ser ambíguas personagens que atraem, em torno de si, os mais contraditórios sentimentos sociais. Mulheres que nem sempre foram vítimas de suas representações. Conformadas em temíveis e atrativas imagens elas também souberam fazer uso e proveito do fascínio que provocaram, invertendo os jogos de poder”, explica a autora.
Composta por três volumes, a obra de Isabelle Anchieta fundamenta e até se confunde com o início da cultura ocidental moderna e, não ao acaso, seu recorte temporal e geográfico é o Ocidente moderno. Entre as diversas imagens femininas, a socióloga priorizou aquelas que se popularizaram no Ocidente por meio de estereótipos: a bruxa, a índia tupinambá canibal, Maria, Maria Madalena e as estrelas hollywoodianas.
É importante elucidar que autora não parte da premissa de que as mulheres foram a parte fraca ou oprimida do objeto de estudo. “Mais do que uma simples identificação de quem são os vilões, as vilãs e as vítimas, atentei para as contradições, o que escapa ao controle e às intenções dos atores, e as ambiguidades próprias da representação da imagem da mulher. Uma alteridade que simultaneamente provoca atração e medo, no que denominei ‘marginal atrativa’. Difícil dizer, ao fim, quem controla quem, mesmo porque as imagens são animadas pelas relações”, enfatiza a autora.
"A pesquisadora se deslocou rumo às fontes originais e fez uma verdadeira peregrinação em direção às imagens, sem descurar jamais da materialidade das obras analisadas: o tamanho, os locais, o contexto e a autoria. O conjunto é robusto, inesperado e convence", diz a historiadora e antropóloga Lilia M. Shwarcz, que assina a contracapa da obra.
A série abre com Bruxas e Tupinambás Canibais, no qual o leitor pode acompanhar a diabolização da imagem da mulher nos séculos XV e XVI por meio de um diálogo entre as bruxas e as índias tupinambás, figuras que tanto atormentaram e enfeitiçaram os homens na transição da Idade Média para a Idade Moderna.
No segundo livro, a autora traz a idealização e a emergente humanização da imagem feminina por meio de Maria e Maria Madalena, figuras que emprestam o nome à publicação, protagonistas que incorporam os mais diversos conflitos de ordem religiosa, moral e econômica. A socióloga traz, com elas, a ascensão e a crise da moralidade cristã entre a Idade Média e a Moderna.
Na remontagem histórica traçada pela socióloga, é posta em evidência a transição de “personagem a uma pessoa” vivenciada pelas mulheres. Segundo a autora, primeiro, elas lutaram para humanizar-se no fim da Idade Média, tentando desvencilhar-se de um destino de extremidades, no qual ou eram bruxas ou santas. “Descê-las do pedestal e retirá-las da boca do inferno foram os primeiros passos para que, enfim, a modernidade levasse sua encarnação a cabo”, explica.
O movimento seguinte foi o de individualização, com o desejo de ser única e reconhecível, tal qual estimava as estrelas hollywoodianas que intitulam o terceiro volume - Stars de Hollywood.
“Desde então, a mulher tem sido plural: mulheres. Existe apenas na forma particular que a encerra”, afirma Anchieta. A esse duplo movimento, que se entrelaça e se complementa, a autora atribui o termo "individumanização".
"Nos três livros que compõem a série, Isabelle Anchieta inaugura, entre nós, um estilo de reflexão que explora as múltiplas possibilidades de interpretação das imagens na perspectiva sociológica. É uma obra originada no manejo da mais fina artesania", pontua a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, em declaração para contracapa da trilogia.
Para facilitar a leitura dos três volumes separados ou na ordem que melhor convier ao leitor, a autora oferece uma apresentação geral que se repete nas publicações e oferece uma visão de conjunto das obras que integram a série. Além disso, cada volume contém, ainda, uma introdução e uma conclusão específicas, que conferem a ideia da unidade e do conjunto da obra.
Matéria: A4 e Holofote
Imagens: Toni Yaa
Remontar os primórdios da individualização e humanização da sociedade do Ocidente Moderno por meio das imagens da mulher - este foi o cerne do estudo realizado pela socióloga Isabelle Anchieta. Ao longo de oito anos, ela mergulhou em uma intensa pesquisa teórica e de campo, na qual se debruçou por pinturas, esculturas, panfletos noticiosos e filmes dos arquivos de bibliotecas da Alemanha e Suíça, museus da Europa e até dos estúdios de Hollywood. O resultado pode ser conferido em Imagens da Mulher no Ocidente Moderno, trilogia lançada pela Edusp.
“Elegi as imagens da mulher por ser ambíguas personagens que atraem, em torno de si, os mais contraditórios sentimentos sociais. Mulheres que nem sempre foram vítimas de suas representações. Conformadas em temíveis e atrativas imagens elas também souberam fazer uso e proveito do fascínio que provocaram, invertendo os jogos de poder”, explica a autora.
Composta por três volumes, a obra de Isabelle Anchieta fundamenta e até se confunde com o início da cultura ocidental moderna e, não ao acaso, seu recorte temporal e geográfico é o Ocidente moderno. Entre as diversas imagens femininas, a socióloga priorizou aquelas que se popularizaram no Ocidente por meio de estereótipos: a bruxa, a índia tupinambá canibal, Maria, Maria Madalena e as estrelas hollywoodianas.
É importante elucidar que autora não parte da premissa de que as mulheres foram a parte fraca ou oprimida do objeto de estudo. “Mais do que uma simples identificação de quem são os vilões, as vilãs e as vítimas, atentei para as contradições, o que escapa ao controle e às intenções dos atores, e as ambiguidades próprias da representação da imagem da mulher. Uma alteridade que simultaneamente provoca atração e medo, no que denominei ‘marginal atrativa’. Difícil dizer, ao fim, quem controla quem, mesmo porque as imagens são animadas pelas relações”, enfatiza a autora.
"A pesquisadora se deslocou rumo às fontes originais e fez uma verdadeira peregrinação em direção às imagens, sem descurar jamais da materialidade das obras analisadas: o tamanho, os locais, o contexto e a autoria. O conjunto é robusto, inesperado e convence", diz a historiadora e antropóloga Lilia M. Shwarcz, que assina a contracapa da obra.
A série abre com Bruxas e Tupinambás Canibais, no qual o leitor pode acompanhar a diabolização da imagem da mulher nos séculos XV e XVI por meio de um diálogo entre as bruxas e as índias tupinambás, figuras que tanto atormentaram e enfeitiçaram os homens na transição da Idade Média para a Idade Moderna.
No segundo livro, a autora traz a idealização e a emergente humanização da imagem feminina por meio de Maria e Maria Madalena, figuras que emprestam o nome à publicação, protagonistas que incorporam os mais diversos conflitos de ordem religiosa, moral e econômica. A socióloga traz, com elas, a ascensão e a crise da moralidade cristã entre a Idade Média e a Moderna.
Na remontagem histórica traçada pela socióloga, é posta em evidência a transição de “personagem a uma pessoa” vivenciada pelas mulheres. Segundo a autora, primeiro, elas lutaram para humanizar-se no fim da Idade Média, tentando desvencilhar-se de um destino de extremidades, no qual ou eram bruxas ou santas. “Descê-las do pedestal e retirá-las da boca do inferno foram os primeiros passos para que, enfim, a modernidade levasse sua encarnação a cabo”, explica.
O movimento seguinte foi o de individualização, com o desejo de ser única e reconhecível, tal qual estimava as estrelas hollywoodianas que intitulam o terceiro volume - Stars de Hollywood.
“Desde então, a mulher tem sido plural: mulheres. Existe apenas na forma particular que a encerra”, afirma Anchieta. A esse duplo movimento, que se entrelaça e se complementa, a autora atribui o termo "individumanização".
"Nos três livros que compõem a série, Isabelle Anchieta inaugura, entre nós, um estilo de reflexão que explora as múltiplas possibilidades de interpretação das imagens na perspectiva sociológica. É uma obra originada no manejo da mais fina artesania", pontua a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, em declaração para contracapa da trilogia.
Para facilitar a leitura dos três volumes separados ou na ordem que melhor convier ao leitor, a autora oferece uma apresentação geral que se repete nas publicações e oferece uma visão de conjunto das obras que integram a série. Além disso, cada volume contém, ainda, uma introdução e uma conclusão específicas, que conferem a ideia da unidade e do conjunto da obra.
Matéria: A4 e Holofote
Imagens: Toni Yaa